terça-feira, 8 de janeiro de 2008

A primeira vez

A primeira vez custa sempre mais, diz-se, enquanto não se apanha o jeito e se ganha "calo". Pois bem, esta primeira semana do ano teve o seu quê de primeira(s) experiência(s) e fez jus ao ditado.

Pela primeira vez enfrentei o famoso (não pelas melhores razões, certamente) sistema de saúde americano e percebi como estar doente nos States é um acto de coragem!

Primeira dificuldade - ter um seguro de saúde disponível a todo o tempo (para não ligar para uma linha de atendimento 24/7 e descobrir que durante o fds o sistema está em baixo para actualização e que, por isso, não podem fornecer informações sobre o que está coberto pelo plano que eu escolhi quando cá cheguei, quando obviamente não me passava pela cabeça ficar doente);

Segunda dificuldade - perceber que tipo de assistência solicitar (hospital, centro de saúde, clínicas privadas), especialmente quando não se sabe o que está coberto pelo seguro;

Terceira dificuldade - tentar retirar alguma utilidade da quase-nula informação que consegui reunir após algumas chamadas - felizmente eu não estava propriamente a morrer e pude esperar pela manhã seguinte, já que o suposto centro de saúde/urgência afinal só funciona durante a semana;

Quarta dificuldade - entrar em contacto com a linha telefónica de enfermagem que funciona 24/7 para perguntar se eles têm serviços médicos ao domicílio e descobrir que o outro lado da linha está noutro Estado americano, a muitas e muitas horas de Chicago (já parece a linha de atendimento da DT na Índia...);

Quinta dificuldade - ligar para a linha de atendimento do seguro de saúde logo pela manhã (na 2f) antes de ir ao médico (só) para confirmar que o centro de saúde em causa estava incluído na lista de prestadores e descobrir que o meu contrato de seguro caducou no final de Dez... Entrar em pânico! Pensar nas poupanças que não cheguei a fazer! Fazer contas por alto para tentar perceber se estou assim tão doente que valha a pena endividar-me para o resto da vida!

Sexta dificuldade - tentar perceber o que se passa junto dos Recursos Humanos da minha entidade empregadora: quem contactar às 7h30 da manhã de 2f?!

Sétima dificuldade - Bem, não podiam ser só dificuldades, por isso vejam lá a sorte de saber apenas o nome e o contacto de uma pessoa nos RH e efectivamente conseguir entrar em contacto com ela àquela hora (ajuda o facto de não estarmos sob o mesmo fuso horário, eu sei...), que me confirmou não haver razão para eu não estar coberta pelo seguro de saúde;

Oitava dificuldade - conseguir pôr em contacto (telefónico) todas as partes envolvidas neste suposto processo - eu, a minha empresa e os tipos do seguro de saúde - para descobrirmos, finalmente, que estou coberta por um novo contrato desde o início deste ano, porque entretanto já recebi o número de segurança social americano e deixei de ser "provisória" (nunca me tinha apercebido desta condição de provisória...);

Nova dificuldade - chegar ao centro de saúde e preencher o longo questionário (de carácter pessoal e médico) que nos fornecem a propósito de qualquer questão minimamente relacionada com a medicina (um destes dias fui a uma massagem quiropática e demorei quase tanto tempo a preencher um questionário do género quanto estive deitada na maca a ser efectivamente massajada, por isso desta vez já nem estranhei tanto);

Décima dificuldade - perceber e explicar sintomas em inglês... E explicar medicamentos trazidos de PT...

Décima primeira dificuldade - após a consulta, o médico pergunta se quero medicamentos "com ou sem receita"(nesse momento estava eu a tentar perceber como será que funciona a cobertura do meu seguro em ambas as situações) - a coisa acaba por resolver-se de forma inesperadamente rápida, porque o médico acrescenta que os sem receita são menos agressivos e devem ser eficazes no caso em concreto;

Décima segunda dificuldade - o medicamento sem receita traduziu-se afinal num nome quase ilegível escrito pelo médico num post-it amarelo... Que eu, obviamente, não sabia onde comprar nem o que era exactamente...;

Décima terceira dificuldade - descobrir o medicamento em causa no supermercado/farmácia que me recomendaram, mesmo após as indicações da farmacêutica - corredor 10, ao fundo, lado esquerdo, prateleira de cima... Escusado será dizer que não fui muito bem sucedida... Tive de voltar a pedir ajuda... Para afinal descobrir que, como se não bastasse o nome do medicamento ser praticamente ilegível no raio do post-it, ainda por cima não era mais do que o nome do componente do medicamento e não do medicamento em causa (como se tudo isto fosse óbvio! Por essa altura já estava quase para matar alguém!).

Enfim... Depois de tudo isto, passei pelo escritório e comuniquei aos meus chefes que apenas sofro de uma virose normalíssima e que para prevenir males maiores vou trabalhar a partir de casa durante 1 dia ou 2, seguindo as recomendações do médico.

Ah, e ainda bem que, apesar de doente, não estou incapacitada para trabalhar a partir de casa, porque parece que neste maravilhoso mundo (laboral e social) americano, os empregados são por norma obrigados a tirar dias de férias quando ficam doentes... Facto que eu desconhecia por completo!

2 comentários:

Francisco disse...

Hummm, mal por mal, o nosso cantinho deve ser igual.. lol

Bijus :D

Paulinha Magrinha disse...

Pois, Kel... Aqui neste país à beira mar plantado... Também te "aconselham" a tirar férias em caso de doença!!!
Tadinha!!! Espero que estejas melhor!