quarta-feira, 24 de setembro de 2008

E agora? - Parte I

Já toda a gente se apercebeu que o século XXI não teve um começo suave no que toca a questões económicas e sociais, pelo que a crise financeira com que a América se debate nos dias que correm talvez não seja surpresa total, especialmente atendendo à Administração actual.

No entanto, as suas repercussões (pelo mundo inteiro, não tenhamos ilusões), os seus efeitos e consequências em geral, tendem a crescer de dia para dia, envolvendo cada vez mais empresas, entidades, sectores de actividade - o que começou (de forma mais ou menos delimitada) no mercado imobiliário toma agora proporções inimagináveis e faz os americanos temerem pelos "bancos do seu próprio bairro", como referiu o Pres. Bush esta noite no seu discurso à nação, pelos empregos do dia-a-dia (ainda esta noite se referiu que a General Motors, só para dar um exemplo, já esgotou a sua capacidade de crédito e custos terão de ser cortados num futuro imediato se a situação não melhorar).

Os EUA encontram-se numa encruzilhada económico-financeira sem grande paralelo na história e a Administração Bush decidiu propor ao Congresso um plano de salvação que permita dar crédito as empresas que estão com a corda na garganta, por forma a que mais empregos não tenham de ser sacrificados.

O Congresso reconhece a importância de agir neste momento de crise mas tem-se mostrado muito renitente quanto ao plano em causa - é preciso dar garantias que o crédito em causa não vai financiar as reformas e indemnizações dos executivos que deixaram as coisas neste estado, é preciso que os americanos não tenham de pagar demasiado em consequência deste adiantamento, é preciso que as entidades certas beneficiem do programa... é preciso, acima de tudo, esclarecer todos os detalhes do plano que ainda permanecem indefinidos.

Do ponto de vista de uma pessoa habituada a um estado social de direitos e deveres, em que qualquer catástrofe ambiental leva os agricultores a pedir subsídios ao Estado Português, é engraçado ver a repulsa com que os vários congressistas olham para esta intervenção no mecanismo normal do mercado - ainda hoje o Presidente dizia que este plano era contrário às suas convicções mais profundas sobre o funcionamento da economia, mas necessário neste momento de crise.

Tudo isto teve já reflexos importantes na campanha presidencial - a menos de 40 dias das eleições:

Bush pediu a comparência de McCain e Obama para discutir a crise e as opções em causa ao mais alto nível e sem partidarismos à mistura (na medida do possível); McCain anunciou suspender a sua campanha a partir de amanhã (lançou um repto para que Obama faça o mesmo) e vai dirigir-se para Washington, onde estará a tempo inteiro, aparentemente, a tentar dirimir o conflito entre Bush e o Congresso - aproveitou ainda a deixa para pedir o adiamento do primeiro discurso entre candidatos presidenciais, previsto para esta 6f à noite (espero que a ideia dele seja aceite, porque vou estar algures no Texas e não devo poder assistir ao debate).

McCain tem a tarefa impossível de, por um lado, ter de se desmarcar dos efeitos desta crise e de Bush e, por outro, ter de mostrar um papel activo na solução do problema, apoiando a ideia de Bush e convencendo os congressistas republicanos (os mais reticentes...) a aceitarem o plano;

Obama afirma estar disponível para prestar auxílio em Washington, mas isso não o impede de prosseguir com a sua candidatura (enquanto Presidente, terei de lidar com vários assuntos ao mesmo tempo, diz ele, e não vou poder suspender uns em função de outros, já para não falar do facto de agora ser a altura em que os americanos mais precisam de ouvir os candidatos e saber com o que contam para o futuro) - o seu staff afirma que a ideia peregrina do McCain de abandonar a campanha neste momento crucial se deve ao facto de estar a descer nas sondagens e ter cada vez menos dinheiro para a relançar e não querem ceder a pressões.

Esperam-se capítulos emocionantes nos próximos dias (e eu no Texas...).

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