quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Religiões

Uma das vertentes fascinantes de se viver num país verdadeiramente multi-racial e multi-cultural (ainda que a interacção dos vários grupos não funcione assim tão bem na prática, como podem imaginar) é o contacto que passei a ter com vivências completamente diferentes da minha.

Quando o meu departamento se reuniu, a nível nacional, o mês passado, foi interessante ver como aqueles dias em particular tinham diferentes significados para as várias religiões em causa.

De facto, calhou estarmos todos juntos quando se celebravam os últimos dias do Ramadão, por um lado, e o ano novo judaico, por outro, pelo que:

- Uma das raparigas estava em rigoroso cumprimento do Ramadão e só comia e bebia após o pôr-do-sol, pelo que não podia "pequeno-almoçar" nem almoçar connosco e só se juntava a nós na sala de refeições por alturas do jantar (haviam de ver a cara de pânico dela uma das noites quando se apercebeu que o crepe chinês que estava a comer não era o tradicional vegetariano mas sim o de carne de porco...! Até tive pena da aflição dela e estive mesmo para lhe dizer que isso não devia ser suficiente para ela ir parar ao inferno... mas nunca se sabe...);

- Essa mesma rapariga passou a noite de 6f, dia 26 de Set, em claro, porque diz-se que era a noite em que os anjos desciam à terra para ouvir os desejos dos crentes e ela tinha muitos desejos para pedir... (e penitências a fazer, depois do crepe de porco!);

- O outro muçulmano decidiu adoptar a regra (realmente existente) de que o Ramadão não tem de ser cumprido quando se está em viagem para interromper, durante uns dias, o jejum forçado durante o dia, mas iria regressar ao cumprimento da penitência assim que regressasse a casa;

- A Natalie, judia ortodoxa em elevadíssimo grau, só come comida kosher e tem sempre uns horários estranhíssimos para poder estar em casa por altura do pôr-do-sol às sextas-feiras (um destes dias hei-de explicar-vos melhor as inúmeras e, por vezes, bem ridículas restrições destes ortodoxos), pelo que tirou uns dias de férias para poder "festejar" (com muitas rezas, naturalmente) devidamente o fim-de-ano judeu e teve de se ausentar antes do fim da semana;

- Um dos meus chefes está hoje de jejum (há 24h) porque parece que é o dia em que os judeus se penitenciam e pedem perdão pela sua conduta para iniciarem "limpos" o próximo ano - ele queria ter tirado o dia e ir à sinagoga, como mandam as "regras", mas como a sinagoga estava a cobrar 300$ de entrada (!) e ele nem é assim tão religioso quanto isso, decidiu cumprir o jejum (sólido e líquido) mas veio trabalhar...

Enfim... ser religioso pode dar muito trabalho!

1 comentário:

Paula disse...

É a fé, minha amiga... É a fé!!!